Já fui corajosa, acho que já fui ou pareci que era, ali, quando eu tinha meus 18, 19 anos. Já falei o que quis, já fiz o que quis, já cheguei em alguns caras e já fui mais peito aberto e disposta para as coisas do que sou hoje. Ainda assim, nesta noite, um amigo me disse que sou corajosa porque quero mudar de emprego. Segundo ele, sou mais corajosa do que a maioria das pessoas, uma vez que não tenho medo de recomeçar do zero. Foi impossível não pensar que devo parecer realmente uma pessoa segura e pronta para tudo o que vier. Mas não sou.
Um grande exemplo disso é que ao ser demitida, em julho, de um dos dois empregos que tinha, quase morri de depressão. Na época, me explicaram que queriam contratar uma empresa de marketing para cuidar da imagem do meu assessorado, fazendo marketing de guerrilha. Ao sair de lá, caí em depressão (a segunda neste ano) e recomecei a me achar incompetente. Eu já sou um fracasso em relacionamentos, ser também um fracasso profissionalmente, para mim, é muito difícil de aceitar.
De lá para cá, eu não quis saber de nada, fiquei triste, chorava a toda hora e não queria nem levantar da cama. Cheguei a dormir de 12 a 14 horas por dia para não encarar a realidade e a tristeza de me ver como uma incompetente, enquanto quase todos meus colegas de faculdade estão em belos empregos.
Tentei muito achar o real motivo da demissão, mas nenhum fazia sentido além daquele que haviam me dito, sobretudo, porque nunca haviam reclamado do meu trabalho. Pelo contrário, fui elogiada algumas vezes. Um mês depois de eu ter saído de lá, descobri que a pessoa que estava me substituindo era prima do dono de uma empresa de marketing, amigo do meu chefe. As coisas ficaram um pouco mais claras e eu parei de me culpar tanto. Mas ainda acho que, se eu fosse mais competente, eu teria continuado lá. Não era o melhor trabalho do mundo, mas nunca quis sair desse jeito.
Com essa, somaram-se duas demissões em seis meses e isso destrói a auto-estima profissional de qualquer um.
Em todo esse tempo, mantive meu outro trabalho, o qual eu gostava mais. Mas isso não impediu que eu me sentisse mal. Afinal, a empresa não é grande, está começando agora, ainda não tem aquele rigor e status de um veículo de comunicação conhecido e reconhecido. Entretanto, sua proposta de trabalho é muito legal. O grande problema é o atraso do pagamento. Só para se ter uma idéia, recebi o salário de maio no fim de junho, o de junho em agosto, e o de julho devo receber em outubro, se deus quiser.
Hoje, contei a esse amigo que queria sair por causa disso e foi quando ele falou que eu era corajosa por querer recomeçar minha vida profissional de novo. Entretanto, não disse a ele que, simultaneamente, não estou querendo sair porque não me sinto confiante para tentar outro emprego. Restringi-me a dizer: “Medo de recomeçar eu não tenho mesmo não. Meu medo é outro, pior do que esse. Tenho medo de não dar conta do trabalho”. O que é a mais pura verdade.
Ele não sabe de nem 1/5 de toda minha depressão. Não quis contar a ele. Ele sempre me viu como uma pessoa forte, inteligente e de bem com a vida. Não queria que ele me visse no fundo do poço, já que sei o quanto ele acredita e “espera” que eu cresça.
Cada vez que escrevo coisas assim aqui neste blog me dou conta de como estou um bagaço de gente, em frangalhos por dentro, cheia de machucados e cicatrizes em meu coração, mente e alma. Entretanto, também fico boba de ver como ainda consigo passar uma imagem tão autoconfiante a ponto de, em meio a tanta depressão, alguém falar que sou corajosa. Sei que as pessoas acreditam nisso porque, muitas vezes, ajo como se eu não ligasse para os problemas. Para alguns, chego até a dizer e brincar que tenho a certeza que tudo vai se resolver. Isso para não me lamentar perto delas.