A genética nunca me foi muito favorável. Sempre fui o “patinho feio” da escola, da rua e de todos meus amigos. Nunca fui popular e, por não me achar bonita, eu procurava ser o mais discreta possível para as pessoas não repararem em mim e no meu corpo. Durante a adolescência, além de ver meus seios crescerem muito rapidamente e tomarem uma forma irregular e feia, percebia também que meu nariz era (e ainda é) bastante assimétrico e desarmônico em relação aos traços do meu rosto. Hoje, com 24 anos, tenho várias lembranças de humilhação na infância por eu ser feia, um extenso histórico de rejeição, principalmente por parte dos garotos, e ainda não tenho condições financeiras para fazer as cirurgias plásticas para eu ficar mais bonita e para minha vida ser diferente.
Comecei a sofrer bullyng aos 5 anos. Lembro perfeitamente de vários episódios dessa época, quando eu morava no primeiro andar de um prédio onde havia várias crianças que sempre brincavam no corredor do edifício bem próximo à minha porta. Eu ficava doida para me juntar a elas, mas elas nunca deixavam por “ordem” de duas irmãs que sempre comandavam as brincadeiras. Elas eram filhas de um casal amigo dos meus pais, e brincavam comigo apenas quando seus pais estavam em minha casa. Faziam isso para manter a imagem de boas meninas. Na frente dos outros, me tratavam bem, mas quando não havia ninguém por perto, elas me chamavam pela janela do quarto da minha mãe apenas para me humilhar. Elas cuspiam em mim, falavam que eu era feia e que meu cabelo era ruim. Isso aconteceu várias vezes porque eu sempre atendia seus chamados na esperança de que daquela vez fosse diferente, já que quando elas me chamavam era sempre de um jeito carinhoso. Isso ate eu aparecer na janela.
Minha mãe sabia o que as meninas faziam comigo. Várias vezes ela chamou a atenção dessas crianças e alertou à mãe delas sobre o que estava acontecendo. Para que eu não tivesse sempre que brincar sozinha, minha mãe, mesmo com todo o trabalho de casa, pegava minhas bonecas e me chamava para brincar. Ela passava horas comigo, fazia vestidos para as minhas barbies e fazia tudo para que eu não sentisse a falta de outras crianças. Quando ela descobria que eu tinha alguma amiguinha na escola, ela convidava a menina para me visitar e até buscava-a em casa.
Como eu sempre fui tímida, com poucos amigos e tentava me afastar ao máximo das crianças que me criticavam e tratavam mal, minhas lembranças da infância não são muito boas, exceto pelas recordações do carinho dos meus pais.
Aos 14 anos, me mudei para uma escola onde eu era quase completamente excluída pela turma. Durante a merenda, eu ia para o canto mais distante do pátio para lanchar. Até tentei socializar, mas não deu certo. Na minha sala, havia um menino também tímido, e eu não me lembro o motivo, mas nossos colegas fizeram diversas brincadeirinhas conosco e inventaram histórias de que um estava interessado no outro. Um dia, eles armaram um encontro e nos “incentivaram” a nos beijar. Era o meu primeiro beijo. Foi uma experiência ruim, mas como até então nenhum menino havia gostado de mim, eu fiquei muito esperançosa em começar um possível namoro com ele. Entretanto, depois disso, nos tratamos como estranhos.
Até os meus 15 anos, eu usava grandes blusas de malha para esconder meu corpo que começava a se desenvolver com a adolescência. Meu cabelo ainda continuava muito feio, eu comecei a ter cravos e espinhas, e cada vez mais percebia que os traços do meu rosto não eram harmônicos, principalmente meu nariz.
Nessa época, eu também comecei a perceber que surgiram várias estrias na minha bunda. Daí, deixei de ir a clubes e sítios onde tem piscinas. Eu não queria que as pessoas vissem meu corpo.
Continua...
Continua...
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